Paixão por motos não se explica. São muitos anos rodando sobre duas rodas (algumas vezes caido ao lado). Cheguei até a pesquisar sobre o assunto, afinal, na ciência não existem relatos sobre os motivos que levam uma pessoa a se apaixonar por outra pessoa, ou carros, ou aviões e muito menos pelas doces meninas metálicas de duas rodas.
Vamos analisar o seguinte: você tem 18 anos e resolveu ir à padaria, seis quadras de sua casa, está ameaçando chover. Ao invés de pegar o carro ou o guarda chuva, vai de moto, contrariando a lógica. Coloca o saco de pães quentes por dentro da camisa, toma um chuvisqueiro, pega um resfriado e sua mãe ainda reclama que os pães chegaram murchos, você não tinha motivos para fazer, mas fez.
Você, agora, tem 23 anos e combina com os amigos uma viagem de moto para o litoral. Arrumam as pequenas barracas, umas mochilas, marcam de se encontrar no posto do Bilica e dali saem para Ubatuba. Sem dúvida, pegam chuva na estrada. Tudo encharcado, tralhas e companheiros de viagem, todos molhados e no dia seguinte, resfriados.
A idade vai avançando, você se casa e começa a pensar em economia, afinal, tem apartamento para pagar, a prestação do carro e sua mulher está com cara de quem quer arrumar um herdeiro pra você, pronto, a solução é ir trabalhar de moto. Está certo que muitas vezes você passa frio, toma susto com motoristas que teimam em não gostar de motos e invariavelmente, toma aquela costumeira chuva, e apesar dos anti-térmicos, analgésicos e xícaras quentes de chazinhos da sua querida esposa, vai acabar pegando um resfriado.
Depois, vem a fase em sua vida que se resume aos filhos pequenos brigando sem parar no banco traseiro do carro, vale lembrar que nessa fase você não pega nada e nem ninguém mas também não pega resfriado.
Depois dessa pequena bonanza, você começa a pensar outra vez nas meninas de duas rodas. Quem sabe, fazer algumas viagens curtas, mas não se engane, vai ter chuva e frio, com certeza.
Pronto, agora você, já está perto dos 40 anos. Comprou a melhor roupa, a melhor bota e um capacete cheio de cores, sua menina já não é mais tão pequena e na garagem você a olha com um misto de desejo de aventura e liberdade. A máquina está pronta. Sua mulher, depois de muita conversa, já aceitou que você fique uma semana fora de casa, viajando com os amigos. Aqueles amigos que ela olha meio de lado, tentando se convencer de suas inocências.
Lá vamos nós! De novo! Logo cedo, no posto do Bilica, todos uniformizados, motos alinhadas, correntes lubrificadas e invariavelmente os cabelos grisalhos já povoam a cabeça daqueles que ainda tem a sorte de ter cabelos.
O destino não é importante, o que vale é o vento no rosto, o asfalto passando rápido por debaixo dos pneus, pequenas e ousadas ultrapassagens que nos fazem lembrar dos bons tempos, há 20 anos, quando a chuva trazia só aventura e resfriado.
Pois é, moto faz a gente passar frio, não tem botão pra acionar o vidro elétrico, quando chove, por mais que a roupa seja adequada, sempre tem um lugar onde a água penetra e pelo conhecido fenômeno da capilarização(que a ciência explica), sobe desde a bota até a cintura. A danada é instável e por só ter duas rodas, foi feita pra cair. Mas, insistimos e vivemos tentando equilibra-la. Os motoristas não respeitam, os buracos são implacáveis e os mosquitos deixam a viseira parecendo mais um cenário de guerra.
Ah, esqueci! Sabe aquele resfriado que você vivia pegando constantemente, não se preocupe com ele, daqui pra frente, vai ser gripe mesmo.
Bom, espero ter ajudado os não pilotos a entenderem como é pilotar uma moto e os pilotos a não entenderem porque ainda fazem isso.
De qualquer forma, o bom mesmo é acelerar, não importa aonde você vá, nem mesmo o destino, desde que seja sobre uma moto. Afinal, de que vale a lógica sem prazer.
creditos: 360graus.terra.com.br
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